Crise entre Trump e Petro afeta peso e risco país em momento de desconfiança com política econômica da Colômbia | Finanças

Ninguém esperava que a Colômbia seria o primeiro país atingido, ainda que apenas por algumas horas, pelo ímpeto tarifário do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Embora os dois países já tenham chegado a um acordo em torno da questão imigratória, o prêmio de risco nos mercados associado ao estresse aumentou, com desvalorização do peso colombiano e piora do risco país, em um momento no qual grandes bancos já têm apostado contra os ativos financeiros da Colômbia diante da desconfiança crescente em torno da condução da política econômica.

O peso colombiano se destaca entre as moedas de pior desempenho no dia, o que já era esperado por parte do mercado diante da escalada nas tensões entre Trump e o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, no fim de semana. Mesmo com o acordo firmado ainda ontem, o mercado testa os ativos colombianos em níveis mais depreciados, o que se espalha por outros países da América Latina. Nesta tarde, enquanto o dólar subia 0,69%, a 4.203,98 pesos colombianos, o risco país da Colômbia, medido pelo spread dos contratos de CDS de cinco anos, tinham forte alta, de 5,61%, aos 201 pontos.

“Os eventos de ontem são barulhentos”, avaliam os profissionais do Citi. “Embora não seja surpreendente que a imigração tenha surgido como uma questão bilateral, a escala e a velocidade da resposta dos EUA foram, de fato, uma surpresa”, apontam os profissionais, para quem as tensões do fim de semana “mostram a disposição dos EUA de pressionar com o uso de tarifas mesmo aliados tradicionais”.

Além disso, para eles, com Trump e Petro sendo ativos nas redes sociais, os riscos seguem sobre a mesa. “Qualquer escalada pode ser desproporcionalmente prejudicial para a Colômbia devido à sua dependência dos EUA para exportações e, portanto, permanecemos atentos a novos eventos como este”, afirmam os analistas do Citi em relatório.

A desconfiança e o desempenho negativo de ativos colombianos, contudo, não é algo novo. Na última semana, a agência de classificação de risco S&P Global Ratings manteve a nota de crédito soberana da Colômbia em ‘BB+’, com perspectiva negativa, dado que, na visão da agência, a Colômbia enfrenta desafios fiscais crescentes, com déficits maiores que o esperado, o que tem criado um ambiente mais negativo para as contas públicas, além de um sentimento mais fraco do investidor local enquanto as incertezas globais persistem.

Nesse contexto, a desconfiança em torno da condução futura da política monetária pelo Banco da República (Banrep) também tem aumentado, após trocas na diretoria da autoridade monetária colombiana. Não é por acaso que, dez dias atrás, a estrategista Gisela Brant, do J.P. Morgan, revelou uma estratégia que aposta em uma maior inclinação da curva de juros colombiana, ou seja, taxas de longo prazo mais altas que as de curto prazo, enquanto o banco americano mantém uma visão negativa acerca do desempenho do peso colombiano.

Com o recente embate entre Trump e Petro, a situação doméstica colombiana, assim, volta a assombrar os mercados. “Mantivemos uma perspectiva pessimista sobre a Colômbia desde o fim do ano passado, ao nos posicionarmos por meio de um aumento na inclinação na curva de juros e com posições vendidas no peso”, diz Brant, ao falar de justificativas monetárias e fiscais, sobretudo com a mudança no conselho do Banrep, que deve manter os juros de curto prazo ancorados, diante da expectativa de novos cortes na taxa de juros em meio a algum progresso na desinflação.

A desconfiança destacada pelo J.P. Morgan também é sentida pelos estrategistas do Wells Fargo, que, nesta segunda-feira, abriram posição comprada em dólar contra o peso colombiano, diante da expectativa de que a moeda americana chegará a 4.600 pesos, o que simboliza uma valorização de cerca de 9,5% em relação ao nível acima.

Além das questões monetárias e fiscais da Colômbia, o estrategista Aroop Chatterjee, do Wells, avalia que os riscos tarifários envolvendo os EUA “acrescentam uma dimensão aos prêmios de risco do peso colombiano”. “Uma relação mais conflituosa entre EUA e Colômbia e a perspectiva de tarifas bilaterais acrescentam mais riscos para a moeda, em nossa opinião. Embora as tarifas tenham sido evitadas por enquanto, os riscos não desapareceram, com uma estimativa de 190 mil colombianos entre a população de imigrantes sem documentação nos EUA e as políticas de imigração do governo Trump em andamento.”

Gustavo Petro, presidente da Colômbia, em discurso no Congresso — Foto: Fernando Vergara/AP
Gustavo Petro, presidente da Colômbia, em discurso no Congresso — Foto: Fernando Vergara/AP

Fonte: Valor

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